Daniel Chapo e partidos da oposição chegam a consenso sobre reformas estatais, mas exclusão de Venâncio Mondlane preocupa analista

Daniel Chapo e partidos da oposição chegam a consenso sobre reformas estatais, mas exclusão de Venâncio Mondlane preocupa analista


O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, anunciou ter chegado a um acordo com os partidos da oposição sobre os termos de referência para discutir reformas estatais. O acordo foi alcançado após um encontro com representantes da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Partido para o Desenvolvimento Otimista de Moçambique (PODEMOS), Nova Democracia (ND) e Movimento Democrático de Moçambique (MDM).

No entanto, o analista político Hilário Chacate, em entrevista à DW, alerta que a ausência de Venâncio Mondlane nesse processo pode representar um risco. Segundo Chacate, Mondlane é uma das figuras centrais da atual conjuntura política e sua exclusão pode comprometer a legitimidade do acordo.

Ainda assim, o analista pondera que, caso os pontos defendidos por Mondlane tenham sido incorporados no consenso estabelecido, isso pode ser um avanço positivo.


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DW África: Como avalia o consenso entre Daniel Chapo e os partidos da oposição?

Hilário Chacate (HC): aparentemente, um dos principais protagonistas desse momento político foi deixado de fora: Venâncio Mondlane. Para muitos, ele é o epicentro das políticas que o país enfrenta atualmente. Qualquer acordo que não contemple sua participação pode ser visto como frágil ou incompleto.

Talvez o argumento do Governo seja de que está dialogando com partidos políticos e não com candidatos individuais. Isso explicaria a ausência de Mondlane, já que ele não representa formalmente um partido, mas sim uma candidatura independente.

DW África: Recentemente, Mondlane afirmou à DW que os seus contributos foram considerados pelos partidos da oposição nesse consenso. Isso não valida o processo?

HC: Se ele confirmar que suas ideias foram levadas em conta, é fundamental que comunique isso de forma clara aos seus apoiadores. Seu público espera que sua voz seja ouvida e que suas propostas sejam refletidas nas decisões políticas. Caso haja, nos bastidores, um diálogo direto entre ele e o Presidente, isso também deveria ser esclarecido.

DW África: Então, mesmo que as suas propostas tenham sido consideradas, ainda não há garantias de que o diálogo está realmente consolidado?


HC: Exato. O essencial é que o acordo contemple as reivindicações que Mondlane defende como sendo as necessidades do povo. No entanto, o discurso de Daniel Chapo dá sinais de que o Governo pode estar a tentar minimizar o impacto dessas critérios ao incorporá-las estrategicamente. Medidas como a redução do número de Ministérios e a eliminação da carga do Vice-Ministro são alguns exemplos de mudanças que já vieram sendo sugeridas por Mondlane e seus seguidores.


O Governo era por orgulho?


HC: Há quem interprete a postura do Governo como um reflexo de arrogância ou prepotência. Um exemplo disso é a questão das instruções. Mondlane questionou a sua legitimidade, argumentando que estão localizados dentro da cidade e que não há transparência nos contratos firmados entre o Governo moçambicano e uma empresa sul-africana. Como resposta, parte da população decidiu-se a pagar as taxas, mas, em vez de procurar uma solução negociada, as autoridades recorreram à força para importar o pagamento. Uma alternativa mais inteligente seria avaliar a possibilidade de ajustar temporariamente os valores das taxas para encontrar um ponto de equilíbrio.


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